"Não dá para fugir à essência"

Negação é a palavra que define a gestão atual da Band e do SBT.

Se não fossem os programas Jogo Aberto, Os Donos da Bola, Brasil Urgente e Jornal da Band, a família Saad já teria declarado falência. Os quatro formatos citados são o único carro-chefe da programação do canal paulista.

São eles os únicos responsáveis pelas melhores médias de audiência da emissora na guerra pela preferência do público, como também são os que mais faturam por meio de comerciais e publicidade.

No ano passado, uma pesquisa do Kantar IBOPE revelou que a TV Bandeirantes é a emissora que detém a maioria do público masculino na televisão aberta. Confira um trecho retirado da matéria "Quem assiste televisão no Brasil?" do jornalista José Armando Vannucci.

"A Band é uma exceção. Associada à época em que era conhecida como a Emissora dos Esportes e com várias atrações sobre futebol em sua grade, a Band tem 61% de homens em seu público e apenas 39% de mulheres. A Band é a que tem a maior fatia acima dos 60 anos. 39% do público está na faixa 60+, 23% entre 35 e 49, 19% entre 50 e 59 anos, 10% entre 25 e 34 anos e apenas 4% do público é formado por pessoas entre 18 e 24 anos de idade." (leia completo).

A direção do canal, em vez de manter esse público preso em sua programação, opta por apostar suas fichas em formatos rejeitados pelo seu público.

Um dos melhores exemplos dessa rejeição é o Melhor da Tarde, atualmente com Pâmela Lucciola e sua variante noturna apresentada pelo Otaviano Costa, que chega a perder até para a Igreja Universal, exibida pela TV Gazeta. 

Quem pensava que, ao ver esses números negativos em sua programação, fariam a família Saad se mexer, engana-se! Pois eles resolveram apostar alto na volta das novelas turcas com a exibição de Cidade Cruel, substituindo o remake colombiano de Café com Aroma de Mulher, mesmo com a baixa audiência na faixa.

A pendenga no horário nobre da Band começou quando a emissora resolveu exibir Beleza Fatal, novela produzida pela HBO, na faixa das 20h30 às 21h20. A trama escrita por Raphael Montes, estrelada por Camila Pitanga, foi um sucesso no streaming, mas não conseguiu repetir esse feito, sendo exibida na TV aberta. 

O horário da novela antes era ocupado pelo Melhor da Noite, revista eletrônica comandada por Glenda Kozlowski, que conseguia ser mais competitiva, anotando cerca de 2,5 pontos, sendo sua maior audiência 2,7. A mistura de jornalismo e entretenimento havia estabilizado a faixa. 

Porém, com a volta do Show da Fé de R.R Soares, a situação se complicou. A direção da emissora, em vez de trazer de volta o Band Notícias na faixa das 22h15 às 23h. Optou por manter a desnecessária edição diária do Perrengue na Band, tornando inviável uma alavanca de audiência para a linha de shows após-culto.

Com a vinda de Beleza Fatal, o Melhor da Noite foi para a faixa das 22h30 às 00h, exibido às quartas, quintas e sextas, sob o comando de Otaviano Costa. Enquanto às noites de segunda tem Galvão Bueno e Amigos e as terças com o tradicional Masterchef, sem Ana Paula Padrão. De brinde, a emissora ainda perdeu Cátia Fonseca, que poderia muito bem substituir Ana, no reality culinário, que há cinco anos deveria ter ido para as noites de quarta.

E vale lembrar que essas caras atrações recebem no traço do Show da Fé, sendo completamente compreensíveis os surtos de Galvão Bueno, ao afirmar nos corredores que não irá renovar com a emissora. É impossível fazer a conversão de um público inexistente, por melhor que seja o programa da linha de shows. Se o Band Notícias tivesse ocupado a faixa das 22h15 às 23h, possivelmente essa situação não estaria ocorrendo.

Concluo que os erros de gestão na Band são infantis e demonstram uma família Saad decadente que luta contra a essência do que fez o canal ser conhecido. Não que isso seja novidade atualmente, afinal, até mesmo o SBT luta para tentar enterrar o que foi a essência da emissora nos tempos de vida de Silvio Santos.

Mas, no final do dia, a família Abravanel é obrigada a enxergar que o público do canal só liga na emissora que se autodenomina: “A mais feliz do Brasil”, quando está no ar Chaves, Chapolin e as novelas mexicanas que continuam a ser a maior audiência do canal, mesmo quando picotadas pela gestão de Mauro Lissoni, que as considera coisa do passado. 

Porém, o SBT sempre teve esse cheiro de nostalgia e naftalina é a sua essência, as mudanças de um SBT, mais jornalístico, só deram certo nas manhãs, algo que o próprio Silvio já havia feito, antes de se afastar da direção da emissora. A sorte de Daniela Beyruti é que ela tem o Rinaldi do Patati Patatá, que tal qual um relógio quebrado, acerta a hora duas vezes no dia.