O que falar sobre Homem com H?

O filme biográfico do cantor Ney Matogrosso explora a jornada pessoal e profissional do músico.


O longa-metragem começa com uma criança explorando a natureza em sua volta, essa criança é simplesmente o Ney Pereira, vivendo e resistindo à repressão do seu entorno sobre o que é ser homem. Sua relação com seu pai expressa o que uma parte dos LGBT vivem em sua infância, com as podas familiares sobre o jeito de ser. “Não tive filho viado”, sorte dos que tiveram uma criação mais positiva e abrangente, pois a do jornalista que vos escreve não foi assim. 

O contato de Ney com a natureza desde a infância, a influência artística que sua mãe introduziu em sua criação, foi o resultado desse ser humano talentoso. Os traços paternos mostram sua voracidade ao correr atrás dos seus sonhos. Ney mostrou ao que veio, sem se perder de si, entre as lutas cotidianas da vida adulta.

As discussões sobre masculinidade e feminilidade já estão postas à prova muito antes dos anos 2000. Nos anos 80, Ney Matogrosso já comprovava que era homem com H, sem precisar performar a masculinidade tóxica da nossa sociedade tupiniquim patriarcal. Sua cinebiografia aprofunda tantos assuntos atemporais da nossa sociedade que, no meio do filme, eu já estava falando: “Homem com H é excepcional”. 

O implícito e o explícito estão ali, não tem elefante branco na sala. Não existe pecado, existe a arte de viver livremente. E quando o longa começa a retratar a vida amorosa do cantor, relembramos que nenhuma experiência é individual. Ao menos no primeiro amor, posso perguntar ao meu caro leitor: Quem nunca teve aquele amigo, que, no fundo, ambos sabiam que era um relacionamento implícito, mas que nunca foi vivido da forma que ambos gostariam? 

O longa é muito bem dirigido, produzido e a atuação de todos é a cereja do bolo. O longa exala bissexualidade quando chega ao início dos anos 80, com todas aquelas cores e praias. Jesuíta Barbosa e Hermila Guedes estão brilhantes e o restante do elenco não deixa a desejar.

Para quem não viveu essa época, como eu, entende-a como uma outra dimensão nesse universo, pois apesar da ditadura militar com sua repressão, a cultura brasileira se manteve viva, se atualizando e resistindo a tudo. Não à toa, os registros musicais das décadas anteriores estão vivos sendo passados para as gerações. 

Eu tinha 3 anos quando a cinebiografia do Cazuza estreou nos cinemas, assisti-a aos 6 pelas telas da Globo. E, aos 24, vejo o longa biográfico de Ney Matogrosso, a quem conheci pelas trilhas sonoras de novelas. Artista, o qual eu me aprofundei em sua história aos 13, ao me assumir. Sua música mais ouvida por mim é Vamos para Lua, de 1988, na qual a apresentação icônica no programa musical Globo de Ouro é gravada na minha memória pelas reprises do finado Canal Viva.

Vale a pena assistir Homem com H? Digo que sim, mas vá à paz por ser uma experiência digna de imersão. Como também um lançamento de grande força simbólica no mês do orgulho LGBTQIAP+, a final Ney Matogrosso deu sua contribuição ao movimento ainda nos primórdios. O longa é uma forma de resistência e mais um ponto de imortalização de sua marca no mundo.

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