É impossível debater a eutanásia sem considerar o quão árdua é a vida

Quantas vezes a angústia bateu e levou toda a sua vontade de realizar seus planos por conta de situações externas que você não tem controle?


Alguém aqui pediu para nascer? Ou foi posto no mundo pelos pais para suprir os desejos e sonhos deles de um futuro melhor? Você foi um erro não planejado? Mas que falaram que está tudo bem e que tem que criar? 

E quando você atingiu a maioridade, simplesmente ouviu um: “Se vira!” e mesmo assim a vida continuou empacada, pois independente do que você faça, você está preso no mesmo lugar.

E você percebe que todo o estudo que você adquiriu não lhe garante nada, mas dizem que conhecimento é poder. Que vai lhe ajudar a fazer uma faculdade, conseguir um bom emprego, mas quando você completa todas essas etapas, você se encontra desempregado e sem dinheiro até mesmo para comprar uma paçoca, suas contas estão atrasadas, você vivendo com a luz cortada e o nome no Serasa.

Tudo porque duas pessoas decidiram ter um filho, seja por questões emocionais, religiosas, machismo e romantização da maternidade.

Enxergo que quem decide ter filhos deveria ter a consciência do mundo em que vive, pois não estamos seguros de nada nesse mundo. Vejo que a continuação da vida humana da forma que vivemos nos últimos anos é um ato de egoísmo com o próximo ser que será concebido e que vai ter que enfrentar todo esse caos.

Na última quinta (16), quando o assunto foi abordado no programa TMC 360°, durante a repercussão da legalização da eutanásia no Uruguai. A jornalista Joana Treptow citou a psicanálise de Sigmund Freud, na qual elenca que a vida também é um sofrimento. Após ler minha análise enviada para o WhatsApp da rádio na qual disse: “Acredito que a eutanásia é algo válido, pois não escolhemos estar no mundo. A vida é muito difícil, só levamos uma lapada atrás da outra.”

Claro, algumas pessoas realmente têm um grande amor pela vida por conta dos acessos fáceis que têm a tudo, enquanto outras vivem sendo uma manivela nesse sistema horrendo que não as deixa respirar nem um minuto.

Entendo que o sofrimento faz parte das etapas da vida, mas ele ser uma constante, ultrapassa o limite do aceitável. E assim não existe frase positiva, ou fé em qual religião for, que ajude qualquer pessoa a seguir de cabeça erguida, pois ela vai estar vivendo no modo sobrevivência.

Já parou para olhar o quanto você vive de esperança e ela nunca se realiza? Nunca chega a hora, é mais fácil chegar uma bala perdida no seu rosto do que a tal da dona felicidade.

Muitos dizem que dinheiro não é tudo, mas quem vive sem dinheiro? Nem as igrejas vivem sem. A romantização absoluta da pobreza é o que também nos deixa empacados, você vê que a elite ama a honestidade do pobre, mas nunca traz ela para si na hora de pagar os impostos e contribuir para diminuir a desigualdade.

É todo mundo querendo estar o tempo todo no controle do mundo, você o olha para os Estados Unidos e União Europeia e tem a noção do quanto esses países fizeram mal para diversas nações e mesmo assim você não enxerga ninguém fazendo uma retaliação em reparação histórica à altura.

Ou seja, vivemos atabalhoadamente, em maior parte das vezes não por escolhas nossas e sim por decisões dos outros, pois vivemos num coletivo intrinsecamente individualizado que ninguém entende a dor do outro.

Lembra que lá em cima falei sobre o egoísmo de quem tem interesse em ter filhos? Uma hora a conta chega, como por exemplo na China, que impôs a Política do Filho Único entre 1979 e 2015 e isso causou uma extrema queda na taxa de natalidade do país, fora o envelhecimento da população. Além disso, tem a questão do extremo machismo que existe lá.

No Brasil, a taxa de natalidade atingiu o seu menor nível em 50 anos em 2023, registrando sua quinta queda consecutiva. E isso causou um terror nas igrejas evangélicas do país, como também no governo e nas elites. 

Afinal, quem vai suprir a demanda de subempregos? Quem vai continuar girando a manivela do Capitalismo para as famílias donas de grandes empresas continuarem a frequentar os colégios mais caros, fazer USP e PUC e ir viajar para Miami nas férias? Quem vai se agarrar na esperança de uma vida melhor indo ajoelhar, gritando sharabadá e dando o dízimo para o pastor?

O pior de tudo é que essas pesquisas atribuem a queda da taxa de natalidade às mulheres, como se fosse um atestado de culpa por decidirem focar nos estudos, terem uma carreira e acesso a métodos contraceptivos, isso porque no Brasil, o aborto infelizmente é crime.

Estamos no país no qual as mulheres são a maioria da população, em grande parte mulheres negras que batalham diariamente, que enfrentam uma taxa alta de feminicídio e, quando têm filhos, sofrem violência obstétrica nas maternidades. Fora outros abusos que passam pela vida.

Não dá para falar de eutanásia sem refletir sobre o que leva as pessoas a escolher acabar com o sofrimento que é viver em uma sociedade doente e que, por fim, nos adoece mentalmente com seu mau-caratismo.

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