Reflexão nostálgica: Os últimos anos da babá eletrônica

Os nascidos entre 1995 e 2005 foram os últimos a ter a TV Aberta como babá eletrônica.


Tenho 23 anos e sou da tão falada Geração Z, mas sou também parte da última geração que desfrutou da televisão como babá eletrônica. Como sempre passei boa parte das noites sozinho em casa, a televisão era quem me fazia companhia. 

Em 2013, numa madrugada de sexta-feira para sábado como essa, eu estava assistindo à sessão de filmes “Tela de Sucessos” do SBT, extinta no início deste ano. 

Hoje, um filme me fez lembrar que eu também fui uma das muitas crianças e adolescentes impactados pelas loucuras de Silvio Santos no SBT.

A “Tela de Sucessos” às sextas-feiras e o “Cine Belas Artes” eram os meus programas de filmes favoritos entre os anos de 2010 e 2013.

O motivo pode assustar alguns dos leitores da minha idade ou mais novos, porém a peculiaridade dessas sessões era a transmissão de filmes clássicos, categoria B e antigos pouco conhecidos ou considerados um fracasso nos EUA.

O filme que me lembrou o início da minha adolescência foi o longa-metragem: “Quem é essa garota?” de 1987 estrelado por nada menos que a rainha do pop Madonna, que causou grande alvoroço em maio deste ano com seu show no Rio de Janeiro.

Tenho opinião contrária a sobre a figura do recém-defunto chamado Silvio Santos, mas não posso ser hipócrita, afinal só pude ter a oportunidade de ter acesso a filmes como “Moonwalker”, estrelado por Michael Jackson em 1988 e “Selena”, estrelado por Jennifer Lopez, por conta dos devaneios do Dono do Baú.

Independente de ser sustentado a base de enlatados americanos, a programação de noite e madrugada do SBT sempre foram as melhores em comparação ao conteúdo transmitido pela Globo, Record e Band. 

Não à toa, surfando na onda de “Supernatural”, que chegava a picos de 14 pontos, de segunda a sexta, na faixa das 21h no SBT. A Record escalou o clássico CSI: investigação criminal para a mesma faixa que passou a ter médias fixas de 10 pontos de segunda a sexta, tirando a vice-liderança do SBT. 

Hoje, a Band bebe dessa fonte, exibindo a série Vikings e recentemente Vidas Bandidas, estrelada por Juliana Paz e produzida pela Disney Plus às quartas-feiras na faixa das 22h30. 

Enquanto na Globo, Jô Soares nem sempre trazia algo interessante para todos em suas madrugadas, eu tinha minha atenção chamada pela exibição da série de humor imprópria para menores, chamada: “Dois homens e meio”. Aliás, hoje em dia essa série é digna do famoso cancelamento.

Silvio Santos, com seu SBT, sempre soube entregar ao mundo o que sabia fazer, que é entreter as pessoas, mesmo que alienadamente. Afinal, seus pupilos Celso Portiolli, Patrícia Abravanel e Daniela Beyruti continuam fazendo isso com grande êxito.

O mundo evoluiu e entramos há mais de 10 anos na era do streaming, com YouTube, Netflix, Prime Vídeo e outros provedores de conteúdo sob demanda.

Antes, a televisão era a única ponte para transmitir conteúdos estrangeiros ao público, porém a internet nos deu mais liberdade de conteúdo e como alcançá-lo, nada que um torrent não nos dê esse acesso.

Muitos dizem não haver mais espaço para filmes e séries na TV Aberta, quem diz isso desconhece a realidade do Brasil, afinal, uma parte considerável da população brasileira ainda é dependente da televisão e não é por escolha própria.

A internet pode mover montanhas, porém ainda não chegou a todos. Mas mudou a rotina dos que tem acesso ao streaming, o que antes era 30 e 40 pontos, hoje se transformou nos 20 com pico de 30, mas isso demorou para acontecer.

Mas esse dado também retrata que a televisão anda cada vez mais longe dos brasileiros, no caso os da faixa de idade dos 5 aos 35 anos. Uma recente pesquisa do IBOPE comprovou que a faixa de idade do público que assiste TV Aberta é de 35 a 60+, em sua maioria mulheres.



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